03/07/2014
Por Ivo Ribeiro e Olivia Alonso | Valor Econômico
A multinacional de mineração Anglo American, que já foi símbolo na extração mundial de ouro e é lider global em diamantes e platina, corre contra o tempo para finalizar um de seus projetos mais caros. A obra do Minas-Rio, de produção de minério de ferro em Minas Gerais e embarque no litoral do Rio, é o maior investimento da companhia no mundo e está com 90% do cronograma pronto. Mas ainda depende de três das quatro licenças de operação para dar partida. A direção da empresa tem a missão de resolver isso até o fim de agosto para conseguir fazer o primeiro embarque rumo à Ásia ou ao Oriente Médio até o fim do ano.
O investimento no Minas-Rio, que vai posicionar a Anglo American entre a meia dúzia de gigantes da mineração de ferro no mundo, em uma lista liderada pela brasileira Vale, é de US$ 14 bilhões - sem considerar a baixa contábil de US$ 4 bilhões feita no ano passado -, ou R$ 30 bilhões. Esse valor inclui a aquisição dos ativos e sua implantação ao longo de sete anos.
Paulo Castellari, executivo brasileiro de 43 anos que desde o início de 2012 está à frente do projeto, diz estar confiante que o primeiro embarque, em um navio para 70 mil toneladas, vai ocorrer antes do fim do ano. "Já temos a licença de operação do porto e as outras três temos expectativa de receber antes do fim de agosto", afirmou.
Os órgãos ambientais de Minas Gerais devem fazer as vistorias técnicas nas áreas da mina e das instalações ainda em julho. Também são os responsáveis pela licença operacional da linha de transmissão de energia. Já o licenciamento para o mineroduto, que cruza os dois estados até chegar ao porto, está a cargo do Ibama.
A pressa da companhia faz todo o sentido. A Anglo está pagando muito dinheiro nesse projeto, que foi embalado dentro de uma estratégia de entrar no rentável negócio de minério de ferro em pleno boom mundial das commodities. As margens operacionais da atividade são umas das maiores da indústria mineral, em certos casos de até 70%. Ultimamente, minas boas e bem operadas rendem de 50% a 60%.
Envolta em uma ampla reorganização desde que Mark Cutifani assumiu a posição de principal executivo no lugar de Cynthia Carrol, responsável pela criação do Minas-Rio, a empresa quer parar de gastar e ver retorno do capital aplicado. Já enfrentou muitos atrasos da obra, cuja previsão inicial era de conclusão em 2010, e do aumento do investimento. O orçamento de implantação saltou dos US$ 3 bilhões iniciais para US$ 8,8 bilhões. Desse total, ainda faltam cerca de 15% para serem gastos, informa o executivo.
Cutifani e Castellari sabem bem que o retorno não virá tão cedo na medida que eles desejam e que tanto agradaria aos donos de ações da mineradora nas bolsas de Londres, cidade-sede da companhia, e de Johannesburgo, na África do Sul. A empresa prometeu aos seus acionistas globais que até 2016 terá retorno de no mínimo 15% sobre o capital empregado, considerando a média dos resultados de todos os seus negócios ao redor do mundo. É mais que o dobro dos 7% de 2012.
O Minas-Rio, admite Castellari, vai ser bem inferior a 15%. O projeto foi criticado desde o início, a começar pelo valor pago de mais de US$ 5 bilhões ao empresário Eike Batista, quando ainda era apenas uma ideia na cabeça do empresário e um amontoado de concessões de jazidas em uma região não tradicional em minério de ferro em Minas Gerais. Há dois anos, por fim, custou o cargo de executiva-chefe de Cynthia Carrol.
Daqui a dois anos, quando atingir a produção anualizada de 26,5 milhões de toneladas, a receita dessa operação, nos níveis de preços de hoje, será de US$ 2,6 bilhões - próximo de 10% do total da companhia, que no ano passado somou US$ 29,3 bilhões.
Mas esse não é o principal indicador, observa Castellari. A geração de caixa, medida pelo Ebitda, esperada em até US$ 1,5 bilhão, vai representar entre 20% e 30% do resultado operacional da Anglo. "Vamos ficar no mesmo nível da contribuição da África do Sul", diz o executivo brasileiro.
Naquele país, além de operações de diamantes, platina e carvão energético, a Anglo American já produz perto de 45 milhões de toneladas de minério de ferro em três minas operadas pela Kumba Iron Ore. Essa empresa, na qual detém o controle, com participação minoritária do governo local, é a maior mineradora de ferro do continente africano.
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